No fundo dos meus pensamentos ainda permanece o único vestígio de uma voz fantasma sempre voltando para mim quando escrevo poesia para dizer "isso não é genial, isso não está bem escrito, falta alguma coisa, é pobre". Mas no final das contas não escrevo poesia para receber elogios por um cérebro brilhante que nem tenho, nem por reconhecimento, escrevo poesia para expurgar algo da minha alma uterina, ninguém precisa entender o que é, eu entendo.

Quando era mais jovem, escrevia em código e chamava de simbolismo. Eu não entendia o que eram todos os sentimentos abundantes e eles se misturavam em um desespero cego. Peguei palavras no escuro. Era uma semente de dor querendo brotar e assim o fez. Naquela época, eu realmente pensava que queria elogios, mas agora sei que o que realmente queria era que meu desespero fosse reconhecido e exorcizado. Nunca aconteceu, tive que sangrar e ainda sangro e sangrar é bom, saber que o que intoxica pode sair é bom (talvez seja por essa ideia que tenho um certo fascínio por trepanação).

Minha escrita não é constante, leva tempo para que os ingredientes se misturem e tomem a forma de algo que vai inundar. Quando o fazem, sei exatamente o que são. Eu sou uma boa cozinheira para mim mesma. Não sei quando essa página será atualizada por causa dessa inconstância, mas não vejo motivos pra não postar aqui. Tenho poemas em inglês e português, quando encontrar o sentimento certo irei traduzi-los de uma língua para outra, por enquanto estarão apenas nos respectivos idiomas em que foram feitos.

Espera

eu tenho fé em algo que não vejo

em algo que nem conheço

pulsando em minha alma

rearranjando minhas entranhas

exige a excelência

ainda que eu não enxergue um palmo à frente dos meus pés.

se dói tê-lo, pior sem ele

pior que a morte

que a sangria,

o pus que nunca respira

o som que nunca chega aos ouvidos de alguém

o que não cessa e nem se liberta

existindo sem poder ser

revela a eternidade

ideal invencível